sexta-feira, 21 de outubro de 2016

CONTOS APÓCRIFOS - O que a Bíblia não revelou, mas nossa imaginação, sim.


OS LIVROS APÓCRIFOS 
- Antologia de contos inspirados na Bíblia -



A palavra “apócrifo”, do grego apokrypha, significa: “oculto”, “escondido”. Termo empregado para designar livros, documentos não canônicos, textos que foram suprimidos, ao longo dos séculos, tanto no Antigo quanto no Novo Evangelho. 

Idealizada e organizada por Rubem Cabral, a antologia Os Livros Apócrifos (Caligo Editora Ltda, 2016, 186 páginas) reúne contos de nove autores diferentes. A edição, com a capa lindíssima assinada por Pedro Viana, apresenta a qualidade já esperada. O conteúdo não deixa nada a desejar, muito pelo contrário. 

Por ser um conjunto de textos de diferentes autores, a antologia não segue um estilo de escrita definido. Não há homogeneidade de contos, pois cada texto aborda um recorte bíblico, com uma visão particular de fatos não relatados nas escrituras.

A proposta de Os Livros Apócrifos consiste em criar narrativas baseadas nos muitos livros que não foram considerados como parte do cânone bíblico, como, por exemplo, o “Apocalipse de Moisés”, “O Evangelho Armênio da Infância de Jesus”. Para isso, os autores usufruíram de total liberdade ao retratar fatos com visões completamente diferentes dos textos que compõem a Bíblia “oficial”.

As inúmeras possibilidades de criação contribuíram para que os nove autores apresentassem contos surpreendentes. Cada conto apresenta uma versão alternativa, simbolizando um texto apócrifo singular, um pergaminho ainda perdido no tempo e no espaço. 

Relação de contos e autores:

Metamorfoses – Raione LP
O Irmão mais novo – Rubem Cabral
Os três dias – Fabio Baptista
A Torre de Nimrod – Valentina Silva Ferreira
Epístola de Pilatos – José Geraldo Gouvêa
Salomão e a Rainha das Luzes – Claudia Roberta Angst
O Evangelho Sangreal – Bia Machado
A Escada de Jafar – Gustavo Araújo
Vem – Diogo Bernadelli

De Jesus ao Rei Salomão, passando pelos mais variados e marcantes personagens bíblicos como Pilatos, Maria Madalena, Esaú e Jacó, os contos abordam temática inspirada na Bíblia, sendo que cada autor utilizou um tom próprio para criar o seu texto. Alguns escritores revelaram-se mais densos, enquanto outros foram mais irônicos.

Pode-se encontrar nas páginas desta antologia, tanto irreverência e ironia, quanto pinceladas filosóficas, romance e questionamentos. Há, também, relatos inspirados em uma realidade obscura, com a tentativa de humanização dos personagens. 

O leitor não encontrará uma tentativa de superação, nem mesmo comparação, do estilo bíblico. As vertentes de criação foram as mais variadas possíveis: história alternativa, ficção científica, romance, mitologia inventada, etc.

Nove autores e alguns segredos. O leitor é convidado a viajar nas possibilidades do “E se...”, sem se ater a preconceitos de crença, desvendando o mistério de cada personagem segundo sua própria percepção. Lembrando sempre que este é um livro de ficção.

Afinal, o que pode ser considerado real e o que foi inventado? Qual é a sua verdade?  E se...?

Cotação: *****

Livro disponível para venda em: 


quinta-feira, 20 de outubro de 2016

O ESCAFANDRO E A BORBOLETA







Direção: Julian Schnabel
Elenco: Mathieu Amalric, Emmanuelle Seigner, Marie-Josée Croze
Gêneros: Drama, Biografia
Nacionalidades: França, EUA

O filme conta a história de Jean-Dominic Bauby, editor da revista Elle francesa, que sofre um acidente vascular cerebral e perde sua mobilidade e comunicação. O protagonista choca-se com a reviravolta em sua vida: sustentado por um mundo das aparências, cheio de glamour e, de repente, preso em um corpo incapaz de se mover e de se comunicar efetivamente. 

A metáfora do "escafandro" sugere esse aprisionamento, uma angústia claustrofóbica, a clausura imposta pela condição física limitada. Por outro lado, o raciocínio de Bauby permanece intacto, o que lhe traz grande sofrimento por ser perfeitamente capaz de observar e avaliar a sua nova situação. Com a ajuda de terapeutas, o paciente aprende a se comunicar através do olho esquerdo, piscando para expressar um “sim” ou um “não”. 

A “borboleta” representa o que JeanDo, como era chamado por todos, possuía de mais livre e leve: a memória e a imaginação. Nesses momentos, em um monólogo imaginário, o protagonista/narrador assume a liberdade (com suas asas) que lhe falta no aspecto físico. 

O grande mérito da direção de O Escafandro e a Borboleta é posicionar o espectador no lugar do protagonista, experimentando a visão restrita de Bauby.  Talvez, este seja o aspecto mais genial e, ao mesmo tempo, mais insuportável do filme. 

Não é algo fácil de digerir, muito menos divertido, mas o filme vale como experiência que força a expulsão da zona de conforto. Não pretendo assistir novamente às cenas pesadas, mas reconheço que há muita poesia tanto no título quanto no desenvolvimento de toda a trama. 

O tom lírico prevalece criando um clima denso de total introspecção que incomoda bastante. Pelo menos, a mim incomodou. Isso é ruim? Não, necessariamente, pois o desconforto leva a pensar, a refletir sobre valores relegados a segundo plano em nosso cotidiano.

Não é uma obra cinematográfica que cause indiferença, longe disso. O mal-estar, instalado logo no início do filme, percorre todos os minutos seguintes. Admito que, apesar de me sentir muito incomodada com o ritmo moroso, que transforma as cenas em um corredor de cenas cada vez mais estreito, não há como negar a alta qualidade da produção. 

Tudo neste filme é inovador, com traços tão particulares que supera fácil outros trabalhos do mesmo nível. Por essa excelência, O Escafandro e a Borboleta recebeu críticas bastante positivas e levou o prêmio de melhor direção em Cannes, em 2007. 

Se você for claustrofóbico e não gosta de se sentir preso em outro corpo, desista de assistir a O Escafandro e a Borboleta. No entanto, se deseja experimentar novas sensações e aceita rever seus conceitos, mergulhe fundo com Jean-Dominic Bauby. Afinal, existem borboletas mesmo no claustro.

Cotação: ***